Em cartaz nos cinemas de São Paulo está um documentário, da lavra do “Casseta & Planeta” Claudio Manoel, que resgata a história de um dos ícones da Música Popular Brasileira, Wilson Simonal de Castro.
Não só por considerá-lo um primoroso levantamento que abrange parte dos anos que vivi, mas por ter-me emocionado inúmeras vezes ao assisti-lo, quero deixar aqui minhas considerações.
Já de cara agradou por trazer-me de volta o sorriso do grande Ronald Golias, aplaudindo enquanto Simonal cantava, a seu lado no palco. Quando criança, quanto não ri das hilariantes tiradas que Golias sempre tinha, em seu nonsense delicioso. Mas ali falava-se de Wilson Simonal, o cabo do Exército que vindo das bases do povo alcançou o ápice do sucesso a que um artista pode almejar. Sequer sabia que Simonal fora tão grande.
Toda sua vida, sua carreira, ascenção e queda, são descritas por brasileiros da mais alta estatura, como Chico Anísio, Nelson Motta, Pelé, Ziraldo, pessoas que ao longo da vida aprendi a respeitar. E ainda outros, não menos simpáticos, como Jaguar, Miele, Paulo Moura e Tony Tornado, unânimes em afirmar que Wilson Simonal foi injustamente execrado pela mídia e por seus pares, a classe artística nacional.
Simonal foi o protagonista de uma vida de tragédia. Tendo conhecido a fama, a opulência, o reconhecimento e a glória, acabou em desprezo, doença e morte – ao que tudo indica provocada pela mágoa. Pelo álcool sim, mas este destilado na tristeza de ver voltar-se contra ele um país que o houvera amado e aclamado.
Talvez por ser contemporâneo desta história, talvez por vê-la contada de forma tão magistral, fiquei consternado com a sina do intérprete de “Meu Limão, Meu Limoeiro”. Doeu-me vê-lo, ao final, esquálido e à beira da falência apresentando-se em atuações minúsculas, que nem de longe lembravam o fausto de seu passado. Ou quase aos prantos no programa Hebe Camargo desafiando quem apresentasse provas de que ele tivesse deveras denunciado alguém.
“Wilson Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei” é o retrato doloroso de um drama humano como poucos, que envolve num mesmo crisol a arte, a política, a injustiça, o olvido e a morte.
Por fim, comoveu-me uma das derradeiras cenas em que num recorte de jornal sob o título “Artistas ignoram o enterro de Simonal” vê-se a foto de Jair Rodrigues, ao velar seu caixão baixando à sepultura… nem todos o abandonaram.
Descendo a rua da ladeira, só quem viu pode contar…
Não perca! Assista ao trailer.
Vá! Saiba onde ver.
Caro Élcio, também vivi a época de Simonal e até hoje me lembro de algumas canções que ele interpretava, muito bem, aliás. A verdade é que naquele tempo bastava alguém levantar suspeita sobre uma pessoa para que ela fosse execrada. Simonal me parecia apolítico, defendendo apenas a “pilantragem”, em um tempo que todos tinham de se posicionar – a favor ou contra a ditadura. Ter amigos no Doi-Codi, ou Dops, sei lá, e tendo usado essa amizade para pressionar (não sei de que forma) um contador que lhe havia dado um golpe, foi o suficiente para que ele caísse em desgraça. Foi seu erro histórico.
Zé, teu texto é preciso e diz tudo. Só da palavra “contador” prá frente é que, ao que consta, as coisas se deram de forma diferente… Segundo o relato (muito convincente) do próprio, ele não roubou ninguém – Simonal é que, com sua irresponsabilidade, foi perdendo contratos e dinheiro. Ao tentar manter seu elevadíssimo padrão, começou a ver-se descapitalizado – e daí a culpar o contador foi um pulo. A forma que ele usou foi pedir aos amigos brucutús que dessem uma coça no homem… mais eles eram do DOPS… e daí prá frente tudo deu irreversivelmente errado. Um drama! Se puder, vá ver. Recomendo efusivamente. Grande abraço.
Já a alguns anos venho assistindo despontar aqui e ali argumentos em favor da inocencia dele.
Lembro do episódio de forma muito vaga e sei que na época ele foi muito esculhambado pelo povarel que entrou de gaiato na história toda.
Ele fazia muito sucesso, vinha de origem humilde e era negro, vestia-se com elegância, tinha charme e um estilo único, portanto tinha todos os ingredientes para ser invejado e se possivel aniquilado. E foi o que rolou de fato.
Mas acho que a história dele esta se desenrolando e daqui a alguns tempos teremos finalmente a cristalização de tudo.
Abçs.
Pois é, Borella. Dfato, parece que o país vem acordando para a injustiça que cometeu… mas e daí? o cara já morreu, morreu em vida. Acho que isso não tem reparo. Enfim, melhor que ao menos a memória seja lavada com água e sabão. Abração Elcio
Pois é. Muito triste tudo isso.
Vê-se que a classe artistica nada fez por ele em vida.
Pelo menos agora fica o registro.
Muito apropriado o termo morreu em vida.
Tentar tirar de alguem a dignidade é em alguns casos matar e deixar o cara continuar vivendo para observar-se como se estivesse morto para todos.
Esse tipo de exilio é de extrema crueldade.
Acho que a unica homenangem válida é a homenagem em vida, assim como o único reparo válido também deve ser em vida.
Reparar a memória é legal mas a crueldade sofrida não tem reparo.
Parabens pelo texto, Élcio!
Num país de memória tão curta e tão carente do seu senso de justiça.. e de sua consciência como ser HUMANO… bom saber que existem pessoas ‘do bem’ por aí!
bjo
Nina
Este ano estamos comemorando 30 anos a famigerada anistia, não que eu seja contra a mesma, mas é que tem de ser revista para que não fique como esta pela metade.
Pergunto por onde anda o acusador de Simonal?
Se os maiores carrascos da ditadura já foram anistiados, porque não fazer o mesmo por esse homem que tantas alegrias nos deu?
O que me intriga é que dar dar nomes a ruas praças e avenidas homenageando aos torturadores pode, mas perdoar simplesmente uma pessoa com Simonal é inadimicivel. Vamos penssar um pouco sobre isso?
Que grande criatividade a sua Elcio. Amei! Quero mais histórias assim…
E as legendas das imagens? São as mais engraçadas e espontâneas! Vc editou as imagens? Belíssimas escolhas! Não fazia ideia que era tão bom nisso! Parabéns!
Ah… escreve mais? 🙂
Obrigada
Lu
Gosto do Simona desde 6 anos (tenho 33).Minhas musicas preferidas sempre foram as ligadas ao universo black e simonal era meu James Brown, meu heroi da musica! Acho maravilhoso que a moçada o esteja conhecendo e reverenciando uma musica boa,pura e verdadeira como a de antigamente.Além de toda a verdade já dita no documentário,todas as ironias da vida e da hipócrisia brasileira, gostaria de fazer um paralelo com outra personalidade da musica mundial…Frank sinatra! Morreu celebre, como “o maior cantor do mundo” ,no entanto todos sabiam de seus vinculos com a famigerada mafia italo-americana e outros conchavos com os poderosos de plantão ,no entanto isso não parece ter sujado sua imagem e até lhe conferiu charme.Talvez o que tenha faltado ao Simona sejam os olhos azuis e o status social do Sinatra.Aquele Brasil ,um pouco mais que o de hoje não suportou um preto popstar! Simonal é o cara certo na época errada.
Acredito que todos envolvidos, inclusive o Wilson Simonal, eram mentirosos e ditadores. Ai meu Deus Wilson era civil !Dentre várias histórias e acusações digo: Se algum funcionário, demitido, mover uma ação trabalhista contra a empresa, ou cometer algum roubo/furto, farei o mesmo que Wilson.. se é que ele fez, “brincadeirinhaaa”. O cara não deveria ter sido condenado sem a veracidade dos fatos, – Brasiiiiiiiiiiiil. Não gosto de suas melodias, mas não posso negar que Wilson tinha uma linda voz, além de uma história triste como muitos que vivem no anonimato – cantores ou não. Para finalizar prefiro falar sobre pessoas que contribuiram e contribuem, de alguma forma, às causas sociais.. e por uma sociedade mais igualitária.
… acho que não é o caso.
Vamos falar sobre suas aventuras/viagens. rs. Valeu lindão!